O clube tem mesmo influência política a nível mundial ou foi já um mito que se criou?
Para além do que já referi, até sobre
Portugal, gostaria de usar como exemplo da influência de Bilderberg as eleições
alemãs de 2005. Na conferência de Bilderberger em Rottach-Egern, os
bilderbergers queriam mudar a imagem enfadonha de Angela Merkel, a "futura
líder" da Alemanha nas eleições alemãs a 18 de Setembro. Um homem
bilderberger deu a opinião que para que os eleitores alemães pudessem aceitar Merkel
como chanceler seria importante dar uma nova definição do termo valores de
família. Bilderbergers alemães bem versados na psique colectiva bavariana
acreditavam que a imagem de Merkel, uma divorciada com um doutoramento em
física, não seria considerada de "confiança", por forma a atrair
votos suficientes nesta firme área conservadora do país. Seria, então,
importante enfatizar a importância do conceito de família. E esta estratégia
foi aplicada nas eleições.
Sobre Merkel, recordo, ainda, que com os Bilderbergers a colocar de
parte Schroeder a favor de um novo candidato, isto poderia significar que após
três anos de guerrilha entre bilderbergers americanos e europeus em torno da
guerra do Iraque, o clube estaria pronto para colocar em marcha uma política
mais coesa. Lembre-se que Schroeder, assim como o Presidente Chirac, eram dos
mais vociferantes críticos da intervenção americana no Iraque. Schroeder,
representando a esquerda, e Merkel, representando a direita, são propriedade
dos Bilderbergers. Apesar de Bush junior não estar presente pessoalmente na
reunião secreta em Rottach-Egern, o governo americano estava bem representado
por William Luti, Richard Perle e Dennis Ross do Instituto de Washington de
Near East Policy. Os participantes de Bilderberg não falam que estiveram
presentes nas reuniões e muitas vezes desmentem mesmo que tenham lá estado...
Os participantes do clube estão explicitamente proibidos de discutir
Bilderberg em público.
O que foi discutido em Stresa, em 2004?
Para além do que já disse, outro dos items de
Stresa esteve relacionado com a "liberalização dos mercados
mundiais". Os bilderbergers sempre estiveram a favor de extremo
liberalismo. Estamos a chegar a um nível profundo de liberalismo com tendência
a ser restaurado em máxima força nas suas crenças e credo.
Historicamente, o liberalismo sempre reivindicou três liberdades:
liberdade de mão de obra. Isso não significa que os trabalhadores serão livres,
mas que o povo será livre de se mover de um país para o outro, uma região para
outra. Para os bilderbergers isso é muito importante. Significa que os patrões
terão um livre acesso a uma grande massa de mão-de-obra. Quanto mais global
for, melhor. Liberdade de solo: significando que o solo é tão importante como
qualquer outra mercadoria. Liberdade de moeda. Em que o dinheiro também é uma
mercadoria como qualquer outra. Recordo que a primeira vaga de liberalismo
desvaneceu-se entre 1920-1930, após ter feitos muitos estragos nas sociedades
americanas e europeias. O seu sistema afirmava que se tudo for livre e as
empresas não efectuarem cartéis ou monopólios, com nenhum trabalhador a
pertencer às centrais sindicais, o sistema irá enriquecer toda a gente. Isto é
uma perfeita utopia, mas baseados nas obras de economistas laureados com o Prémio
Nobel da Economia, bem como desenvolvimentos matemáticos, isto parece aos seus
olhos verdade. O sistema exige que cada país do mundo seja incluído, e que cada
indivíduo seja eficaz. É por isto que o liberalismo e a globalização trabalham
tão bem juntos. Como é por isto que existe o grupo Bilderberg.
Portugal recebeu, em 1999, uma primeira reunião de
Bilderberg, que teve lugar em Sintra. O que foi aí discutido?
Um dos itens principais teve a ver com o comércio de ouro e a
posição da Inglaterra na União Europeia. Em Sintra os bilderbergers decidiram
castigar a Inglaterra pela sua contínua resistência em relação ao espírito
federal europeu. O método que estavam preparados a utilizar contra os inocentes
britânicos seria o de um ataque frontal ao comércio de barras de ouro. Um grupo
restrito de Bilderberg, onde estavam Rockefeller, Kissinger, Victor
Halberstadt, professor de economia da Universidade de Leiden, Etienne Davignon
e Umberto Agnelli, reuniu com os governadores dos Bancos Centrais da Europa. A
seguir à reunião de Sintra, a maioria dos Bancos Centrais, em Setembro de 1999,
fizeram uma supreendente declaração em que estariam a adiar, por cinco anos, o
dumping de ouro, que previamente teriam feito, supostamente porque já não
gostavam de ter ouro nas suas reservas. O anúncio causou uma tendência de
subida nas barras de ouro. O Banco de Inglaterra organizou um leilão de ouro de
algumas supostas reservas. O mais impressionante para alguns de nós, não
familiarizados com o comércio do ouro e a sua realidade, é que, na realidade,
uma barra de ouro quase nunca é comercializada. Dessa forma o Banco de
Inglaterra estaria a oferecer ouro "teórico" (apenas em papel), não o
verdadeiro ouro que tinha em sua posse. Quando o bilderberger George Soros descobriu, lançou um ataque ao
Banco de Inglaterra, causando que o preço do ouro aumentasse para quase 330
dólares a onça.
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